Treino e medicação: o que precisa saber

O exercício físico é um dos pilares de uma vida saudável.
Mas a verdade é que muitas pessoas começam a treinar já sob tratamento médico para doenças como hipertensão, colesterol elevado, diabetes ou ansiedade.
E surge a dúvida: será que posso treinar a tomar medicação?
A resposta é sim e, na maioria dos casos, deve continuar a fazê-lo.
O segredo está em compreender como certos medicamentos influenciam o corpo durante o esforço físico, e em ajustar o treino com segurança.
⚖️ Porque é importante conhecer as interações entre medicamentos e exercício
Durante o exercício, o corpo aumenta o fluxo sanguíneo, a frequência cardíaca e a temperatura corporal.
Alguns medicamentos podem potenciar ou atenuar essas respostas, interferindo com o rendimento e até com a segurança do treino.
Os efeitos colaterais mais comuns incluem:
- sonolência ou fadiga excessiva,
- desidratação,
- aumento da pressão arterial,
- alterações na coordenação ou no equilíbrio.
📍 Dica: leia sempre a bula da medicação e fale com o seu médico ou personal trainer antes de iniciar ou ajustar o treino.
😴 1. Medicamentos para dormir e ansiolíticos
Fármacos como zolpidem, zopiclone ou benzodiazepinas (como o Xanax) ajudam no sono e na ansiedade, mas podem provocar sonolência e perda de reflexos durante o dia seguinte.
Isto torna o treino menos eficaz e aumenta o risco de queda ou tontura.
➡️ Se costuma tomar estes medicamentos à noite, agende o treino para o final da manhã ou tarde, quando os efeitos já tiverem diminuído.
Nunca suspenda o uso sem orientação médica.
🔬 O Journal of Clinical Sleep Medicine confirma que sedativos hipnóticos podem afetar o estado de alerta até 12 horas após a toma.
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🌿 2. Medicamentos para alergias (anti-histamínicos)
Os anti-histamínicos de primeira geração, como a difenidramina ou a hidroxizina, podem causar sonolência e aumento da temperatura corporal, o que favorece superaquecimento e desidratação durante o exercício.
➡️ Prefira anti-histamínicos de segunda geração (como loratadina ou cetirizina), que têm menos efeitos sedativos.
Mantenha-se bem hidratado e evite treinar em ambientes muito quentes.
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🤧 3. Descongestionantes (pseudoefedrina e afins)
Medicamentos como Sinutab® e Actifed®, que contêm pseudoefedrina, aumentam a pressão arterial e a frequência cardíaca.
Isto pode representar um risco para quem tem hipertensão ou problemas cardíacos.
➡️ Se estiver constipado e a tomar descongestionantes, opte por treino leve ou adie a sessão até se sentir melhor.
⚕️ A American Heart Association alerta que a pseudoefedrina pode precipitar eventos cardiovasculares em indivíduos mais sensíveis.
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💩 4. Laxantes
Alguns laxantes estimulam os músculos do intestino, o que pode causar cólicas e desidratação.
Durante o exercício, o fluxo sanguíneo é desviado dos órgãos internos para os músculos, agravando o desconforto intestinal.
➡️ Evite treinar nas horas seguintes à toma e aumente a ingestão de líquidos.
🧠 5. Antidepressivos (ISRS) e benzodiazepinas
Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) , como sertralina, fluoxetina ou citalopram, são muito utilizados no tratamento da depressão e ansiedade.
Podem causar boca seca, sudorese e sonolência, mas o exercício físico melhora significativamente o bem-estar mental e pode potenciar o efeito terapêutico da medicação.
➡️ Treine algumas horas após a toma e não se prive da atividade física: o exercício é um excelente aliado no equilíbrio emocional.
💬 Revisões publicadas em Psychosomatic Medicine (2019) mostram que o exercício reduz sintomas depressivos de forma semelhante a alguns tratamentos farmacológicos leves.
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❤️ 6. Betabloqueadores e outros medicamentos cardiovasculares
Os betabloqueadores (atenolol, propranolol, metoprolol) reduzem a frequência cardíaca e a pressão arterial, o que significa que o coração não acelera tanto durante o esforço.
➡️ Se estiver a tomar estes fármacos, não use a frequência cardíaca como referência de intensidade. Prefira usar a perceção subjetiva de esforço (Escala de Borg) ou a potência do treino. Se toma este tipo de medicação, o programa de exercício clínico do AXIS WELLNESS destinado a pessoas diagnosticadas com hipertensão arterial poderá ser uma opção segura para si.
🩺 De acordo com Priel et al. (European Journal of Sport Science, 2021), o treino é seguro sob betabloqueadores, desde que a intensidade seja ajustada.
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🩸 7. Estatinas
As estatinas, usadas para controlar o colesterol, são essenciais na prevenção cardiovascular, mas podem causar dores musculares (mialgias) ou até, em casos raros, rabdomiólise (doença caracterizada pela destruição das fibras musculares), especialmente com esforço intenso.
➡️ Mantenha o treino regular e moderado, aumentando a intensidade de forma gradual.
Se sentir dor muscular persistente, consulte o médico. Poderá ser necessário ajustar a dosagem.
📚 Estudos (Berent et al., Eur J Prev Cardiol, 2019) mostram que o exercício moderado é seguro e benéfico em quem usa estatinas.
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🩹 8. Anticoagulantes e antiagregantes
Medicamentos como a varfarina, apixabano e clopidogrel reduzem o risco de trombose, mas aumentam o risco de hemorragia em caso de impacto ou queda.
➡️ Evite desportos de contacto (futebol, ou artes marciais por exemplo) e opte por atividades seguras e controladas, como caminhada, treino de força, bicicleta ou natação.
💡 As diretrizes da European Society of Cardiology (2020) recomendam adaptar a modalidade ao risco individual.
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⚙️ Dicas práticas para quem toma medicação e treina
- ✅ Treine, sempre que possível, antes de tomar o medicamento (especialmente se notar sonolência).
- 💧 Hidrate-se bem antes, durante e após o treino.
- 🍎 Coma algo leve — a comida pode retardar a absorção de alguns fármacos.
- ⚠️ Reduza a intensidade se sentir tonturas, fadiga ou superaquecimento.
- 👩⚕️ Informe sempre o seu médico e personal trainer sobre a medicação que usa.
💬 Conclusão: o equilíbrio entre saúde e movimento
A medicação e o exercício físico não são incompatíveis. Pelo contrário, complementam-se.
O importante é conhecer o seu corpo, compreender os efeitos dos medicamentos e ajustar o treino com orientação profissional.
No AXIS Wellness, dispomos de programas de exercício clínico especialmente concebidos para pessoas com doenças crónicas ou sob tratamento medicamentoso. Também disponibilizamos o apoio de 2 consultas anuais de medicina desportiva, geral, e familiar com o Dr. Benjamim Carvalho, já incluídas em qualquer modalidade de adesão. Pode agendar na receção do clube.
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📚 Referências científicas
- American College of Sports Medicine (ACSM). Exercise and Medication Interactions: Clinical Considerations, 2023.
- Colberg, S. et al. Physical Activity/Exercise and Diabetes. Diabetes Care, 2016.
- Priel, E. et al. Impact of Beta Blockers on Exercise Physiology. Eur J Sport Sci, 2021.
- Berent, R. et al. Statin-Induced Muscular Side Effects at Rest and Exercise. Eur J Prev Cardiol, 2019.
- D’Ascenzi, F. et al. Antiplatelet and Anticoagulation Therapy in Athletes. Eur Heart J, 2024.
- Miller, B. & Thyfault, J. Exercise–Pharmacology Interactions. Physiol Rev, 2020.
- American Heart Association. Decongestants and Hypertension Advisory, 2022.
- Healthline. 7 Medications That Don’t Mix With Exercise, 2024.
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