Excluir o glúten da nossa alimentação é mais saudável?

A popularidade das dietas sem glúten tem vindo a aumentar, conquistando cada vez mais adeptos e sendo já considerada por muitos a dieta da década. Inicialmente estes produtos foram criados para responder às necessidades das pessoas com doença celíaca e também das pessoas não celíacas com sensibilidade ao glúten que se viam obrigadas a seguir uma dieta restritiva.
No entanto, há cada vez mais pessoas a optarem por estes produtos por acreditarem que são mais saudáveis e que ajudam na perda de peso. A questão que se coloca é se a adoção deste regime alimentar, por si só, é mais saudável.
Doença celíaca
A doença celíaca é uma doença crónica autoimune causada por uma sensibilidade permanente ao glúten em que, por erro do sistema imunitário, se desenvolve uma reação imunológica contra o próprio intestino.
Esta reação leva à inflamação do intestino delgado e consequente diminuição da capacidade de absorver os nutrientes.
Alguns sintomas da doença celíaca são:
- Desconforto abdominal;
- Diarreia;
- Défice de ferro (anemia ferropénica);
- Sintomatologia cutânea;
- Fadiga;
- Entre outros.
Além disso, a doença celíaca pode estar associada a outros distúrbios, incluindo inúmeras doenças auto-imunes. De facto, estudos mostram que aproximadamente 25% das pessoas com doença celíaca foram diagnosticadas com uma ou mais condições auto-imunes adicionais! Com o tempo, as pessoas com doença celíaca podem ter muitos outros sintomas:
- Enzimas hepáticas anormais
- Má absorção de micronutrientes
- Anemia por deficiência de ferro
- Ansiedade, depressão ou TDA (transtorno de deficit de atenção)
- Fadiga
- Osteoporose e outros problemas relacionados ao osso
- Doença de pele
- Coordenação e equilíbrio prejudicados
- Fraqueza, dormência ou dor nas mãos ou nos pés
- Baixo crescimento (em crianças)
- Problemas com menstruação e/ou fertilidade em mulheres
- Infecções pulmonares ou problemas respiratórios
Além da doença celíaca, pode também ocorrer a sensibilidade ao glúten não celíaca, situação em que não se verificam marcadores genéticos (anticorpos da doença celíaca) nem danos intestinais. Nestes casos, os principais sintomas são semelhantes aos sintomas de outras doenças como a síndrome do intestino irritável e a alergia ao trigo, o que dificulta o seu diagnóstico.
Alguns dos sintomas clássicos da intolerância ao glúten incluem:
- Dor abdominal
- Gás e inchaço
- Diarreia ou obstipação
- Fadiga
- Confusão mental
- Dores de cabeça
- Dores articulares ou musculares
- Problemas de humor (ansiedade, depressão)
- Problemas de pele (urticária, acne, rosácea, psoríase)
- Dormência nas pernas ou braços
- Anemia
Ao contrário da doença celíaca, a intolerância ao glúten não é mortal. Mas os problemas a longo prazo que causa podem ser igualmente perigosos.
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Quando deve ser excluído o glúten da sua alimentação?
O glúten é uma proteína presente nos cereais trigo, centeio e cevada. Estes ingredientes estão presentes em alimentos do dia-a-dia como o pão, tostas, massas, crepes, pizzas, sobremesas. Além destes, esta proteína está frequentemente “escondida” noutros produtos processados, como é o caso das sopas, molhos, cerveja, entre outros. Deve ser excluída da alimentação de pessoas com doença celíaca ou com sensibilidade ao glúten não celíaca, o que dificulta naturalmente a sua vida, uma vez que as obriga a consultar a lista de ingredientes de todos os produtos para garantir a ausência de glúten. Tradicionalmente, a exclusão do glúten na alimentação traduzia-se, por isso, na eliminação de inúmeros alimentos, o que impedia a ingestão de uma dieta variada
No entanto, hoje praticamente todos estes produtos têm já uma variedade enorme de versões sem esta proteína. As dietas sem glúten incluem produtos à base de arroz, milho, tapioca e grãos como a quinoa, amaranto e millet. Para o pão e outros produtos sem glúten são maioritariamente usadas as farinhas de trigo-sarraceno, farinha de arroz integral, farinha de amêndoa, farinha de grão-de-bico, fécula de mandioca e de batata.
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Excluir o glúten da dieta ajuda-nos a perder peso?
O que se pretende perceber é se a exclusão do glúten na dieta está ou não associada ao emagrecimento. Se esta exclusão se traduzir na exclusão da maioria dos alimentos com hidratos de carbono, naturalmente leva a uma menor ingestão alimentar e, consequentemente, a uma perda ponderal. Outra situação é a substituição dos hidratos de carbono com glúten por alimentos do mesmo grupo, mas sem esta proteína. Neste caso, o que se verifica em muitos casos é que produtos designados sem glúten acabam por ser mais ricos em gorduras, açúcares do que as versões convencionais, possuindo assim um valor calórico elevado. Além disso, os cereais isentos de glúten são tendencialmente mais pobres em ferro e em vitaminas do complexo B. Deste modo, nestes casos é indispensável o acompanhamento de um profissional da área da nutrição para evitar défices nutricionais. Importa ainda referir que os produtos sem glúten são tendencialmente mais dispendiosos e nem sempre se encontram disponíveis em todos os supermercados.
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Conclusão
Atualmente, não existe evidência científica de que produtos sem glúten sejam benéficos para pessoas que não sofram de doença celíaca ou de hipersensibilidade ao glúten. Ou seja, a ausência desta proteína nos alimentos, por si só, não está relacionada com a qualidade da dieta nem com a perda de peso. Muito pelo contrário: pode mesmo aumentar o risco de excesso de peso e/ou obesidade. O que muitas vezes se verifica é que pessoas saudáveis que excluem o glúten da sua alimentação referem melhoria do funcionamento gastrointestinal. Importa, no entanto, referir que a adoção deste regime alimentar, se realizado de modo restritivo, ou seja, excluindo por completo os alimentos acima referidos, está por vezes a carências nutricionais graves, sendo particularmente contraindicada em grupos de risco como grávidas, idosos, crianças em fase de crescimento e indivíduos com baixo peso.
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Referências:
Blog Lusíadas Saúde – Excluir o glúten ajuda-nos a perder peso?
Clínica São João de Deus – A diferença entre doença celíaca e intolerância ao glúten
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